sábado, 2 de agosto de 2008

Um longa brasileiro


Em 2001 eu ainda não pensava em enveredar pelo o universo da animação nem na minha formação acadêmica, muito menos na minha formação profissional. Naquele ano foi lançado O Grilo Feliz, primeiro longa-metragem de animação brasileiro o qual eu tive a chance de assistir (em casa), uma produção da Start Desenhos Animados lançada em 2D já com alguns elementos em computação gráfica 3D. A idéia vinha desde o início dos anos 80 quando Walbercy Ribas pensava em criar a história para divertir seus filhos. Por dificuldades técnicas e de patrocínio a intenção não se transformou em fato ainda naquela época. O sonho foi adiado para mais de 15 anos depois.

Embora seja uma produção voltada para o público infantil, com gag’s gestuais simples, não foi algo produzido por uma criança e sim por adultos para crianças, como é comum, sendo esse, talvez, o fator responsável por trazer às telas elementos de crítica social e míticos como o mito do trabalhador brasileiro que se finge de bobo para melhor passar, ou o mito do proletariado que muito trabalha, é iludido por promessas, e no final pouco ganha, ambos incorporados na figura do louva-Deus Faz-Tudo; ou quem sabe, o mito dos falsos profetas que na verdade são grandes malfeitores, introduzido na figura da sempre estereotipada aranha, a vidente charlatã.

Podemos dizer que O Grilo Feliz é um filme de autor, visto que, foi o próprio Walbercy que roteirizou e dirigiu geral e artisticamente toda a produção, incumbindo seus filhos de outras tarefas não menos importantes como: produção executiva e co-roteirização para Juliana Ribas e computação gráfica e efeitos para Rafael Ribas, ambos possuindo personagens homônimos na história talvez até emprestando algumas de suas características.

Um filme com diálogos fáceis e bem explicados, ficando apenas a cargo do Grilo Feliz algumas incursões no ramo da poesia que, principalmente nos momentos de tensão, entra como substituta da prosa. A arte é primorosa, principalmente quando observamos os cenários, verdadeiras obras de arte (como consta nos extras dessa produção), os desenhos também não deixam a desejar, trazendo traços firmes e bem delineados e uma pintura digital precisa. Traz símbolos importantes da cultura afro-brasileira como o jogo de capoeira praticado pelo gafanhoto Rafael (personagem homônimo de Rafael Ribas) e o toque de tambores, muito semelhantes às batidas do candomblé. Outros símbolos se fazem presentes como o futebol, o ipê amarelo, a seringueira e a mamona, principal munição das brincadeiras de “guerrinha” entre crianças, aplicada no longa em situação de semelhança bélica.

Falando um pouco sobre o enredo, podemos ver uma história bem amarrada que segue os moldes tradicionais de uma peça de ficção com apresentação de personagens, acontecimento, clímax e resolução, que prima pela exaltação de valores como a amizade, a esperança, o amor, a consciência ambiental e a liberdade, esta última defendida pelo grilo como um dos principais fatores de sua alegria constante. A inocência infantil é representada na figura de Caracolino, o mais novo da turma (na verdade um bebê) que mal fala e ri quando está frente a frente com o grande vilão de toda essa aventura, o lagarto Maledeto.

Em Janeiro do próximo ano veremos a continuação desse longa com O Grilo e Feliz e os Insetos Gigantes, produção realizada em (um bom) 3D que promete mais uma peça valiosa para o acervo nacional de longas de animação.

2 comentários:

Jhésus Tribuzi disse...

Esse eu ainda não vi. Tu assistiu cassiopéia?

Unknown disse...

Que Legal! Meu pai era arte finalista deste desenho nos anos 80. E ele confirmou o que vc escreveu, infelizmente tiveram que parar o filme naquela época por falta de patrocinio. Lembro do meu pai finalizando esses desenhos em casa. Com nanquim, no acetato.... ouvindo beatles enquanto trabalhava... legal... época boa! Muito bom seu texto! Obrigada!