sábado, 26 de julho de 2008

A nova descoberta do Fogo


Ainda estou aqui com o destro, não o canhoto do ingresso (já que o que me sobrou foi a parte direita do mesmo) que me deu a oportunidade de assistir Wall-e pela segunda vez. Revendo minhas opiniões me arrependo de não ter me proporcionado momentos de prazer e entrega que um filme como ele merece. Não me deixei encantar pelo enredo emocionante que cativa casais, mulheres, crianças e homens com coração. Entrei armado para uma guerra, disposto a sentar na poltrona e observar, com um olhar crítico, as surpreendentes novidades (acredito que aqui caiba a redundância) que a Pixar nos trazia, e foi esse o acontecido.

Tudo me espantava frente a tantas inovações e críticas sócio-econômicas abordadas em mais de 100 minutos de projeção. Era notável o olhar negativista ao capitalismo moderno (sistema que garante a mega produtora, verba para realizar novas “maravilhas” e se manter na ponta do mercado, em algumas traduções: domínio) e ao sistema de monopólio, incorporados na figura da universal Buy Large; às novas formas de comunicação virtual, que ao mesmo tempo em que “diminuem” os espaços físicos, aumentam a distância física entre as pessoas; a tapa na cara da população americana (a que registra maior índice de obesos), simbolizada aqui pela população mundial, que acabou por adaptar um veículo de uso exclusivo dos idosos com dificuldades de locomoção, como único (sim, único!) meio de transporte; entre outros alardes romantizados pelos personagens do filme.

Creditando mais estrelas ao longa, a estrutura de resistência quase nuclear do rótulo “animação = criança” foi quebrada com mais força nessa produção, onde valores como a importância do seu próximo, o valor das pequenas coisas, a preocupação com a higiene pública, foram resgatados. Como sempre, parece que nada passou despercebido pelas mãos dos animadores “pixarianos”, as piadas (gag’s) continuam (embora o tempo de rir fique para antes do início do longa-metragem com o curta Presto que arranca gargalhadas sinceras de quem o assiste, mostrando o lado avassalador de um coelho faminto e a prepotência de um mágico sarcástico) os efeitos causam por vezes "distúrbios nervosos" no espectador, como a nova descoberta do fogo. Parece apenas mais um entre vários, mas pra mim não foi. Não consigo lembrar quando foi a última vez que vi um fogo tão real numa animação, apesar de ter quase certeza de que nunca vi isso, já que, “dominar” o fogo em animações é uma tarefa épica. Só por isso eu carimbava um dez na caderneta da Pixar.

Não quero desmerecer enredo ou argumentos dessa produção, contudo, seria injusto não reparar as constantes semelhanças com E.T. – o Extraterrestre, clássico dos anos 80 do século passado (1982), tanto físicas quanto comportamentais, a exemplo do encontro de apresentação entre Wall-e e Eva (Waaaale... Eeee Têêêê...) ou do apelo sentimental trazido pela figura raquítica de ambos, frente ao semblante austero de Eva e do garoto Elliott que acha o extraterrestre em sua garagem (Wall-e mora numa espécie de garagem). Não me arrisco a dizer que houve cópia de um ou de outro elemento, mas, o fator principal de contato entre os personagens (de ambos os filmes) girar em torno de um toque (o dedo brilhante do E.T. e o entrelaçar de mãos dos dois robôs) é estranho, assim como, em certo momento, a vida do enferrujado robozinho amarelo, depender da sua volta para casa, seu planeta natal.

No mais, é isso, como disse no início, estou eu aqui, olhando para o ingresso 502399, grato por ter assistido, pela primeira vez na vida, um filme no cinema por duas vezes (nem Titanic me arrancou esse recorde), por isso ter acontecido com Wall-e e ao lado de Mirella, minha namorada, e tremendo de sentir uma mordida do Scrat (esquilo engraçado idealizado por Carlos Saldanha) ao sentar para assistir A Era do Gelo 3.

3 comentários:

Jhésus Tribuzi disse...

O filme é fodinha sim, e o mais corajoso deles. Sei lá, pra mim só não bate toy story 2, que tá precisando de uma revisão urgente.

Mirella Burity disse...

não saco de animação ne begnaldo? rs
mas me parece impossível um robô que "escuta" louis armstrong e assiste "hello, dolly" com aquela cara de criatura desolada não cativar as pessoas. eu mesma queria ele pra mim.rs

mas não acho que seja um verdadeiro tapa na cara da sociedade americana. eles criticam sim a postura dessas pessoas obesas e "desumanizadas" mas no final sempre são eles que salvam o mundo.(mas ou menos como vejo as críticas de michael moore.)
no final o discurso sempre é parecido.num tem jeito deles não se acharem o povo escolhido.


e eu quero assistir de novo!


(e se vc quiser segurar minha mão eu deixo viu begnaldo? ahuahuahuahuaha)

Jonathan Rodrigues disse...

uma pequena obra-prima do cinema moderno