quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Inspirador, empolgante e inteligente

Estava eu sentado de frente ao meu computador, com uma preguiça insistente, e relutante, cometendo a atrocidade de não querer assistir a O Castelo Encantado, quando me veio um impulso de procurar novos filmes pra assistir. Passeei por alguns sítios perdidos no mar da internet, chegando até a futucar o sítio oficial do longa-metragem Wood & Stock - Sexo, orégano e rock’n roll em busca de um torrent dessa produção, quando me veio à mente assistir a uma série da qual já tinha ouvido falar a cerca de um ano atrás Death Note. A série foi criada por dois autores que se valem dos pseudônimos Tsugumi Ohba e Takeshi Obata. Foi adaptada de um mangá homônimo e o enredo parte de uma idéia simples: uma lista negra eficiente onde quem está nela morrerá. Parece que a grande sacada disso tudo é a associação dessa lista com os tormentos existencialistas do homem, afinal, qualquer um pode ter uma lista negra, mas poucos têm nela uma arma eficiente, contudo, apenas parece. É como se andássemos em uma pista de ovos onde cada passo é uma incerta e, cada movimento, um alento a nossa sede pelo novo. A inteligência imposta ao personagem Raito é incrível, ele consegue jogar com instruções, contidas no livro (como um guia prático), que parecem óbvias e imutáveis, chegando a perceber mecanismos que nem o deus da morte tinha se apercebido.

Raito Yagami é um garoto, pré-vestibulando, dotado de grande inteligência, fruto de sua disciplina de estudos. A primeira vez que vê o death note é por acaso, caindo de algum lugar, quando está “assistindo” a mais uma aula entediante. Ao término do seu horário de estudos ele vai ao encontro do livro. Por um momento esnoba o que está escrito, porém, por um impulso tipicamente curioso, e nada mais, leva-o consigo. Há sucesso em um primeiro teste, feito em tom descrente, mas a ele não é dado crédito total, abrindo espaço para um novo teste. É como se ele tivesse em mãos algum novo aparelho tecnológico que necessita de testes para entrar no mercado. Se pararmos para notar na cena do primeiro assassinato, vamos ver o quão engraçado são as escolhas. Era um dia comum para ele, tudo estava em seu lugar, cama bem arrumada, tarde de sol, mas, é justamente nesse cenário que tudo ocorre, inclusive em nossas vidas. Não foi necessária uma chuva torrencial para prender Raito a seu quarto, muito menos uma desgraça familiar ou alguma tragédia em seu microcosmo para incentivá-lo nas suas ações, tudo estava normal.

O garoto é seguro do que faz e não duvida da segunda vez em que o livro lhe responde como era esperado. A partir daí tem início uma jornada existencialista. Raito (que já havia se questionado sobre isso) passaria a ser um assassino, com as duas mortes nitidamente causadas por intermédio do livro? Talvez ele achasse que sim, e criou uma forma de burlar esse juízo comum: matar quem torna a sociedade podre, ou seja, criminosos suspeitos e condenados. Ao desenrolar da história vemos que o garoto se vale muito de quem o rodeia, quem sabe até do próprio shinigami (deus da morte) que o acompanha, sendo ele o verdadeiro dono do death note.

O shinigami chamado Ryuuku é uma entidade chamada de deus da morte, que não julga entre bem e mal, certo ou errado. Habita o mundo shinigami e se encontra entediado e descontente com o que está ocorrendo em seu mundo. Sua aparência é assustadora, mas, contrasta com sua face que porta um sorriso constante como se tivesse sido rasgado a faca e marcado para sempre, seus olhos são amarelados e fixos, não detêm expressão. Se cobre com uma carcaça (que mais parece roupa) preta, mas, tem a pele clara. É nítida, ao olhar apenas para ele, a questão do imparcial, suplantada por seus atos. Não é um pregador de verdades como é esperado de algo, ou alguém, que esteja tão perto de deus, ou de alguma força maior. Parece não conhecer muito a Terra e demonstra até um lado de inocência como é visto no momento que ele prova das maçãs dos vizinhos de Raito, ou ainda, quando por algumas vezes fica intrigado com as afirmações do garoto. Anda com outro caderno a tira colo, no qual na capa está fixa, em alto relevo, uma cruz acinzentada junto com um pequenino crânio humano ao centro, pendurado por um colar de outros pequeninos crânios. Um típico espectador, que se diverte ao deparar-se com as pretensões divinas típicas dos seres humanos.

Os traços e o tempo da animação são perfeitos, as sombras usadas não trazem tom pesado ao desenho como o visto no longa Vampire Hunter D. Os efeitos de luz nos cenários são muito bem usados não deixando nada a desejar a uma produção em 3D, falando neles, vale destacar que são grandes obras de arte, não comparável a pulsação de cores e formas de Tekkonkinkreet, porém, tão inspiradores e fascinantes quanto. São planos gerais, planos fechados e closes que justificam essa afirmação. A trilha cumpre seu papel e nos coloca dentro da trama. Mescla temas sacros, quando o momento pede, com trilhas tonais, isso sem mencionar os sons incidentais muito bem cuidados. Tudo se encaixa perfeitamente ao que se está vendo.

A cada capítulo vemos uma solução de algoritmos incríveis, que nos deixam estáticos e fazem com que percamos algum tempo tentando entender o plano, mesmo depois que esse é executado. O jogo parece ser infinito, a cada instante surgem novos elementos que induzem nosso pensamento a jogar também, se colocando na posição de Kira (pseudônimo que Raito recebe da população), julgando quais melhores atitudes a tomar e, quais melhores soluções a empregar. Às vezes os juízos batem, porém, poucas vezes conseguimos chegar às explicações que ouvimos do personagem. Uma série que certamente ganhou célebres elogios, principalmente dos apreciadores e praticantes de RPG.

Um comentário:

Nathan Cirino disse...

Sem dúvida o melhor anime que já assisti até hoje. Eu que sou doido por um roteiro bem escrito me realizei assistindo Death Note... O que acho particular desse anime é que não é apenas uma história bem contada, é uma questão ética que está sendo discutida, uma análise da própria relação do ser humano com o poder.

Pra mim o único que chega a esse nível é Gantz. Outro ótimo anime.